março 31, 2010

A ladeira




Eu preciso aprender a morrer como rio,
A escorrer como um fio de rio que sorri.
E nesse destino incerto de azul e espaço,
E aos instantes de braços e corredeiras,
Deixar minha correnteza de alma inteira
Vagar abismos maiores de além e devires.

Alegre por ser tão manhã quanto já fora;
Que seja assim o oceano à minha espera.
Como rio que mais água tem por morrer,
Que me permita então mais alma engolir
No mergulho; quando assim bater a hora.
Tudo de mim que já há que mais lá seja.

Então que eu incorpore a alegria dos rios,
Que descem só de almejar esse ser depois,
De catar vazios que lhes permitem a queda.
Minha vida, ah, que eu colha tudo de viver,
E aconteça caindo até que um mar se faça:
Esse depois; como já dito ter que alcançar.

Avançar talvez como rio que à morte vai
Seja o melhor que em vida nos aconteça;
Acatar o desenho inclinado da existência,
E evitar a solidão de ser partido em poças,
Calculando que do parado destino desvia.
- Um secar assim é morrer mais doloroso.

Vou como rio e rio e rio até o mais viver.
E não seja eternidade o vão desse depois,
Seja de intensidade esse mar de encontrar;
Minha alma que abotoada aos azuis deste,
Torne-se tão ampla quanto um fim de rio,
Que morre, morre, morre e não esvazia.

Ricardo Fabião (Abril - 2010) 

Texto para o desafio de Abril - Fábrica de Letras
Tema: Abismo

* Foto de Katrin Adam - "Um homem só"

março 23, 2010

Esconderijo


Há um menino por baixo das coisas,
Por tão dentro assim que se diz âmago;
Ali, no mais distante e só do nosso ser,
Onde não acontecem palavras nem sol.
Ele vive de roer umas migalhas de vida,
Sob o regime vigilante do bom senso...

Às vezes joga verdades pela nossa boca,
Mas logo rejeitado retorna para sua cela,
Algo assim sozinho, ausente das horas,
Com destino de eterno breu e silêncio.
Lá não há escada que facilite sua fuga,
Nem verdades que clareiem o caminho.

Esse menino levaremos calado até o fim,
Para que vençam nossas meias verdades,
E criados sejam homens que não somos,
E disso as memórias que jamais existiram,
E que nisso a estrada de viver siga planos,
E o nosso dia não seja afetado pelo real.

Esse garoto e sua bandeira pequenina,
O sorriso que se cala em troca de tostões,
Tudo dentro e só é como morre o adulto,
Que se mal ajusta aos contextos e status...
Que durma sem dormir o menino da alma,
Com seu grito cada vez mais próximo de nós.

Hoje, não, que viver ainda é de disfarces,
Um contrato assinado antes de nascermos:
Por um quase caminho vai uma quase vida;
Um seguir de regras sumariamente prontas.
É só viver do tamanho que morre o âmago,
E agendar para outra vez o que só silencia.

Ricardo Fabião (outubro - 2009)

março 21, 2010

Semeadura

Possa eu sempre que possível
Deixar um tanto de alma
Por onde passo com minha poesia...
E que lá esses fragmentos de vida
Avancem sobre outras dimensões;
E já não seja eu a soprar essa força.
O poema terá suas mãos e boca,
E dirá coisas que eu jamais disse.
E eu de longe, como pai e amigo,
A observar vida além da minha
Sendo colhida para alíviar dor alheia,
Para florescimento de outra vida,
Que com outras serão as sementes
De breve verdejar sobre as planícies.
Até que novamente tudo seja colhido:
O homem, a história, o instante...

Possa eu sempre que possível
Colher e ser colheita.


Ricardo Fabião (março - 2010)


Original da imagem: http://blografa.zip.net/images/semente.jpg 

Meia presença

                                                     Herbert Draper - "Ulisses e as sereias"

Como não havia uma moldura para tua imagem,
resolvi espalhar-te ao redor da minha aldeia.
Há quem diga que até hoje dormes na encosta;
ou deslizas até o verde-azul das primeiras ondas,
e não retornas para um sorriso...

Parece que sussurras barcarolas ao meu ouvido,
e já sem sair daqui estou muito distante de mim;
acompanhando-te em tua misteriosa aventura.
Mas as raízes podem mais coisa que o desejo:
e eu fico; e mais distância de mim eu sofro.
 
Sou homem simples de destino muito estreito;
não sou de ir aos lugares que levam horas até lá;
tudo meu é de minuto, é de muito próximo até.
É de muita dúvida e não saber ao certo significar:
Passo pois voltas de chave nas palavras e calo.

Às vezes estou a doer do amor que me ensinaste,
tentando com meu silêncio as frases que decorei,
repetindo no ar tantos beijos que não arrisquei.
Não tenho certeza se te aprisionei em meu mundo,
ou se do teu já não junto forças de me libertar.
Quem és assim que só sinto e não te encontro?

Verdade é que ciência de mim não mais possuo,
que me ateste que foste sonho, e nunca vieste;
ou que me deixaste e a loucura me apanhou...
Fico cá, cercado pela meia presença que guardei;
essa que não deixará que me falte o sol, o céu.

Ricardo Fabião (Março - 2010)

março 19, 2010

Algo sempre


                                       
                                        Para Mercedes Sosa

A morte não tem cobertor para os sonhos
Por isso no morrendo há que restar o passo,
Indo a lugares onde um morrer nunca invade.
No morto um tanto de viver torna-se carne,
Onde os olhares do tempo estão congelados.
Ali muito de dentro haverá inevitável vida,
Em verde soprar além do branco da porta,
Da última; nem tudo da vida retorna ao pó.

Se a palavra e sua pressa de horizonte,
Se a música e sua onipresença vertical,
Quando cruzadas buscam fundo no infinito.  
E sendo cantar como se desfia uma alma,
E doá-la, muito mais do que sons e gestos,
Depois disso não se volta mais ao começo,
Pois há vida crescendo além desse corpo,
Tomando chão, comendo as mil distâncias,
De rumo onde não se sabe imaginar.

Vida costuma não caber toda num vivente,
Às vezes vaza um viver para outras almas.
E isso avança como ânsias de trepadeiras,
A montar luzes dentro de outras luzes
Das vazantes sobre o sossego das pedras.
Nessa junção, entrelaçam-se os enredos,
E cada enredo, com rabiscos de infinitas pontas,
Lança ramos sobre todas as possibilidades.
E isso cresce
É assim que se vive e se morre sempre:
Sem passar, só sendo...

O poeta, costureiro de mundos, sabe:
Vida dentro de outra, noutra
Tantas, todas.

Juntas, vezes sendo, lidas noutra história,
Fundem-se em formatos diversos de vozes,
Distorções de amores e confusões de cores.
Curva da volta de uns, reta de outro seguir;
Uns que só ficam de muitos que só seguem,
Uns de mato e terra, uns de mar e adiante,
Entrelaçados pois num vivendo de sempre,
Ventre-após-ventre de futuras gerações.

Se um viver espalha-se por vão como fluido,
De certo um morrer sim pode várias mortes:
A que emudece amputada da que fenece,
A que plana desembainhada da que migra,
A que morre ainda que de vida permaneça,
A que indaga seja quanto mais luz se faça,
A que menos passa quando mais voz deseja,
A que aberta contra a distração dos vivos.

Depois disso onde sepultam as frases do fim,
Possa talvez uma fronteira desconhecida,
Um ponto vivo a respirar além dessa esquina;
A lançar sinais de que não se morre havendo
Algo maior que todo seu quando ainda-sendo,
Escorado à porta com um cesto de poesia,
Com voz para entorpecer as dores de um dia,
E alma para conduzir uma distância inteira.

Disso assim restará para os lados a ponte:
Vivos que vão ao morto, este de ir aos vivos;
E a música levando e trazendo a mensagem,
Um sempre.

Ricardo Fabião (outubro - 2009)


março 18, 2010

Outubro (música)

 

     (ouça a música e acompanhe com a letra abaixo)



Quarto minguante solta no céu
Brincam estrelas num carrossel
Roçam palmeiras queimadas de sal
Mãos que se tocam e vão... ao infinito

Perdi a hora, o mundo lá fora
Agora tudo pode se acabar
Se o melhor está comigo
Em peito, pernas, boca, mãos e... sei lá

Quero um beijo, o maior dos seus beijos
Que possa me sufocar
Que seja assim o presente
Pra o que sente, o amor da gente, quem...
Quem entenderá?

Ninguém sabe o que se passa
Estou confuso, vem, me abraça
Como amigo, ao menos, sei
Que posso ser pra sempre seu
Eu gritaria para o mundo
O amor que cala aqui profundo
Não sei se assim tembém, você
Esse desejo de não se conter
Só eu mesmo sei,
Só eu mesmo sei...

(falado)

Aquele instante tornou-se uma vida inteira:
A noite, a lua e a ladeira
E prosseguiu a minha primavera
Por entre os altos e baixos do seu corpo amigo
A última curva era a linha de sua boca
Onde está selado o meu abrigo

Ninguém sabe o que se passa... (refrão)

O silêncio era estrada que se perdia na madrugada
E a ânsia dividida entre tudo e nada
Avançava e recuava,
Ao passo que mais se matava o desejo...
De não alcançar a chegada

Letra, música e intérprete: Ricardo Fabião
Gravada em 1998 (CD "Fragmentos")

março 12, 2010

Afluente




Para Fernando Pessoa


Ah, poeta...
"Dá-me sonhos teus para eu brincar" *
E brincando de sonhar estender-te as mãos;
Para que venha tua palavra escrever minha vida,
Regar as minhas mudas tímidas de liberdade,
Meus projetos de norte e sul de toda parte,
Para que não haja mais lacunas entre ser e expressar...

Eu digo certo as coisas dos homens,
E somo de cor as contas quadradas da álgebra,
Mas não domino o plano disforme de contar poesia,
De arrumar palavras sabendo onde cada uma cabe,
De ajeitá-las de modo que possam abrigar um olho,
E tão rapidamente alcancem seus destinos de dizer.

Ah, vem morar na minha aldeia, 
Acender-me o azul dos dias,
Que tudo meu é cansado de cinza e de ocaso.
Conta-me como se descreve um doer em verso,
Pois nem sempre juntando dor e pena dá poema.
Explica-me como são as alegrias das palavras rimadas,
Ensina-me como sair em curvas por dentro do sentimento,
E ao mesmo tempo ter a mais reta visão de isento.
Se me estenderes teu rio como caminhada,
Não secarei ao tempo, de morte não morrerei...

Ah, acende-me um instante de tua plenitude,
E deixa-me enxergar o viés da alma, o frenesi dos sentidos.
Não quero ser apenas de viver e morrer como faço...
Preciso de tua escada para enxergar a altura do mundo,
Já que sendo meu chão de gente comum, sigo estreito de tão óbvio.
E assim, de frente para teu tamanho de rio e de poeta,
Que eu me faça afluente para me perder de tanto navegar.

Só depois disso assim, de ir tão longe como tu escreves,
De conferir infinitamente poesia como tu és,
Desça eu as escadas e encontre já um outro de mim,
Com alma suficiente para versar um mundo inteiro.

Ricardo Fabião (Março - 2010)

(*) O verso "dá-me sonhos teus para eu brincar" faz parte do poema O guardador de rebanhos, de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa).

março 11, 2010

Ancoradouro


Quando enfim tecido meu corpo de poesia,
Não demorará que me encontrem os leitores.
A alguns estenderei a mão e vários caminhos,
E disso criaremos pontes e passagens secretas.
É o modo como opera uma fábrica de espelhos:
Eu projeto aqui e tu me refletes em ti e adiante...
Como de ti há também luz que volta e me ilumina.
Seguimos eu e o meu leitor a refletir novas luzes,
De maneira que não sabemos o chão que elas são,
E olhando para trás não entendemos seu começo.

Somos de nós o lado certo do verso e seu avesso.
Por tudo já dito e para reflexo do que ainda dizer,
Damos ao sentido não apenas o que lhe é cabível,
Mas o que lhe é possível dentro do não-pensado.
As coisas meias todas de sentir deixamos à poesia,
E realçando meia intenção minha e meia de leitor,
Com mais meias de quem for de aventurar partes,
Saber-se-á que uma poesia inteira ou em pedaços
Tem tamanho que não cabe no acaso das gavetas.

Todavia,
Outros leitores passarão sem que me percebam,
Sem que seus olhos ancorem em meus versos...
Sendo por isso um desencontro total de universos,
Um pesar calado de duas possibilidades e pontes.
Passarão pois meus ramos sem lhes propor frutos,
E os laços que faríamos e os abraços de mundos,
Com palavras de costura e a textura de duas almas,
Em contornos de sentidos e de adornos acrescidos,
Em silêncio serão guardados em caixas separadas,
E deixados às gavetas mais escuras da memória:
Eu poesia com um lado meu de encaixe rejeitado,
E o leitor consigo alheio à minha espera de olhares.

Assim, para todo “não” de um sentir há um texto só,
Uma poesia só, um poeta só, um cego só, sozinhos.
Não que detenha razões o que se diz em um poema;
Em contrário tudo de saber aqui é dito pela metade;
Poesia não prega teorias – permite-se a todas elas,
Só pede um instante de sentido e afago qualquer...
Implora por mundos compartilhados no lá fora.

Há textos sem a luz do olhar de quem os vê de fato,
Mas não há poesia sem que entre luzes haja contato:
A de fora que se dentro completa a que incorpora,
E a de dentro aquela que aflora para mundo embora.
Sigo pois a existir no instante vago dos que me veem,
A distribuir palavras para que de sede não padeçam;
As alegrias e os desejos levo aos que me abrem o dia,
E permitem que nele eu desenhe um haver diferente.

Ricardo Fabião (Março - 2010)

março 09, 2010

Pacto silencioso (conto)


Joana traz ainda consigo o sorriso daquele único encontro, o colorido da manhã, das bandeirinhas de São João, iluminadas pelos instantes felizes do sol de junho. Tudo isso guardado silenciosamente dentro da memória, regado cuidadosamente para que não seque, algo de ser degustado em pequenos pedaços pelo apetite dos seus repetidos dias. Devolverá no momento certo não apenas isso, mas as palavras que apanhou dos anos acumulados, das noites que não dormiu, dos desejos estacionados no porão dos sentidos; jogará tudo aos pés dele, quando finalmente voltar, num rápido desabafo, e tornará a reverenciá-lo, que ela estará pronta, de corda e alegria à mão, disposta a pular pela eternidade afora.
Ele chegou ao sítio muito depois do sol, embora não houvesse naquela manhã nada que brilhasse mais que seus olhos. Ela estava no terreiro, entretida entre o azul, verde, amarelo, branco e vermelho das bandeirinhas, vendo suas primas com os dedos metidos na cola, foi assim que ele a flagrou, Joana tomou um susto, quem é você? Contrataram minha mãe para fazer a comida de milho da festa. Você pode me ajudar a pular corda? Corda? Como assim? Não sabia que as meninas gostam de pular corda? Há muito tempo que ando com a minha corda, é importante, sabe? Amarramos uma ponta na árvore, na outra você gira enquanto eu pulo.
Até hoje, nas visitas que insiste à memória, ela se pergunta por que largou suas primas e o colorido das bandeirinhas por um olhar desconhecido de menino. Ele não era bonito e cheio de si como alguns paqueras do colégio, era talvez atencioso demais, tratava-a como ela calculava ser certo, olhando-a diretamente, ninguém fazia assim. Essa incompatibilidade os uniu: um garoto educado e uma garota inquieta. Foram até a mangueira, lugar onde uma manhã teria que ter mais horas. Sabe-se que percorreram caminhos improváveis com seus olhares, tanto que ele lhe confidenciou coisas silenciosas de menino. Contou que lamentava de lágrimas a morte do seu avô, que morrera dois anos antes, com 72 quando um ataque cardíaco o levou, deixando saudade e uma sensação de que viver dói. Você gosta de suas primas? Elas são estranhas, nunca me deixam brincar. Como você vê a morte, Joana? Não gosto desse assunto. Você pode ser meu novo companheiro de pular corda, Rui, sim, serei também amigo, embora a menina desejasse outros caminhos ao lado dele. Venha brincar comigo à noite, talvez.
No meio da tarde, ele foi levado pela mãe com promessa de que retornaria para logo mais, noite de São João, todos em volta da enorme fogueira, foi como ela ficou, pronta, de vestido florido, trança e laços de fitas, imaginava-o tímido, olhando-a como se pudesse parar o tempo, como se soubesse ler todas as histórias dela de uma só vez, tudo à luz de um saber de menino introvertido. Talvez ainda noite adentro conseguissem um sorriso de dois, possivelmente uma conversa sobre como meninos e meninas se percebem e se permitem às coisas das quais falam os adultos. A corda estava com ela. Sinal de que o garoto voltaria. Tudo acertado por olhares, um pacto silencioso, demais importante para ser deixado de lado.
Joana ficou de olho pregado na porteira, nada desviaria sua vigilância, havia razões de sobra para esperá-lo, uma corda para endosso de uma cumplicidade, um olhar que não se completou, as mãos que não se tocaram, caminhos de um projeto de felicidade, enfim, um ‘se’ com indícios de se tornar ‘sim’. Todos chegavam, gente dos sítios vizinhos, parentes próximos e distantes, alguns rostos desconhecidos, nada interessante, noite como outra qualquer, avançando, indo para longe do seu alcance, jogando horas escuras contra a ansiedade da menina. Houve quem se aproximasse, mas vinham silenciosos. Ele não apareceu, daí a corda em sua mão tornou-se um objeto estúpido, desnecessário. Joana permaneceu ali, ao lado do amarelo indiferente da fogueira, tentando desatar ideias inventadas, apagar projetos para tempos depois, jogar ao fogo as palavras que ele não disse.
Ela nunca soube por que Rui não voltou para rever a corda, e tanta dúvida teve sobre isso, e tanto respeito ao seu retorno, que tudo dela ficou ali, naquela noite, ao relento, de fogueira acesa, a contar em vão os minutos, impossibilitada, como ave de asa única. Nunca viveu como deveria; isso faria apenas ao lado dele, que a enxergava como era, mas ele não retornou, as bandeirinhas de São João nunca mais foram as mesmas, nem a porteira do sítio, e todos que por ela passaram depois daquela noite.
Rui e sua mãe chegaram em casa de lua nascendo, a gente vai à festa na fazenda dos Novaes? Não filho, faremos nossa festa aqui mesmo. É que a filha deles me convidou, pensei que fôssemos, impossível, eles só têm um filho, a menina morreu há oito anos, tristeza da rasgar peito, caiu num poço, era noite de São João.

DAnielle Grisi (Julho, 2009)

Desafio para Fábrica de letras
Para o tema "Silêncio"

março 03, 2010

Combustão


E com estrelas piscando dentro da alma,
e com as células repletas de mundos,
vou rabiscando os vazios da existência
até que se tornem caminhos e passos...

Lanço olhares sobre a guerra dos homens
e choro baixinho por trás das cortinas;
a desejar que sejam apenas pesadelos,
e que logo se agigante uma nova aurora.

Por isso com minhas alegrias de menino,
desço aos porões onde florescem poesias,
a colher uma por uma com preciso zelo;
e os braços coloridos de verdes e laranjas
não são meus somente, são as sementes,
grãos para as manhãs que ainda dormem...

Levo isso por onde vou: estrelas e poesias,
e não temo adentrar escuridões nem limos,
pois lume não falta que me leve adiante,
nem distância há que vença meus anseios...

E por onde segue minha febril carruagem,
alcanço de olhos ao longe sobre os ombros
alguém que apanha um verso meu deixado;
e logo vê-se a chama dentro dos cercados,
assim instantaneamente que milagre parece,
o desejo de investir amor contra as paredes,
e força de ousar paixões para além da estrada,
de não ser apenas mais um só dentro do todo,
por ser brilhando com tudo um de dentro sol.

Ricardo Fabião (Março - 2010)

Fogo obsessor

                 A velha placa de metal com os dizeres “A mulher que tudo vê e ouve, e que de todas as coisas sabe” estava na parte super...